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Análise de uma entrevista:Realidade aos meus olhos.

Entrevista no Assentamento Aliança lote 172. Junho/2007.
Entrevistadora: Marisa de Fátima Lomba de Farias.
Entrevistada: Marina Pereira de Oliveira.
Transcritora:Kátia Aline da Costa.

Marisa: E Marina, é assim como que você é as meninas suas né? Em relação ao assentamento elas gostam, o que que elas falam?
Marina: Elas gostam muito daqui, todas duas, elas gostam. A casada também diz que gosta daqui. Só uma coisa que ta me estrovano, é a Dalva, tem muita vontade de estuda e num tem condições de deixa ela estuda.
Marisa: A Dalva é a mais velha?
Marina: É aquela que ta ali.
Marisa: Hum, hum.
Marina: Então fica assim, ela fez só, termino né? O estudo dela, só que num sobra dinheiro pra paga.
Marisa: Num dá né?
Marina: O estudo fica aí parada. Aí ela reclama eu falo, “vamo vende o lote, pra arruma dinheiro pra você estuda”. “Ah não mãe desista”. “E o que que se que faze”?
(Barulho de batida na palma da mão). A única coisa que eu tenho...
Marisa: (Entrevistadora sorri).
Marina: (Entrevistada sorri). Num que.
Marisa: É.
Marina: Num posso faze nada.
Marisa: Aí chega um nível da escola que aqui não tem mais né?
Marina: Num tem, aí tem que se pago e a gente num tem.
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Há quem recorrer? O que fazer quando os assentados que lutaram tanto por um pedaço de chão, não encontram na terra que produzem, uma forma de oferecer trabalho aos seus filhos que almejam por uma vida melhor? Que solução encontrar se as oportunidades não lhes aparecem e quando aparecem tais envolvem mais custos do que o capital de que dispoêm?O sonho no passado de uma vida melhor é a incerteza da continuidade daqui para frente. O desmembramento não é apenas a saída para fora do assentamento, mas o distânciamento da relação rural e familiar. Oportunidades? Políticas públicas de qualidade? Falta de incentivo do Estado? Apoio e aceitação da família? Pés no chão dos jovens à realidade que os cerca? Eu ainda não sei...

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2 Comentários

  1. Realmente a situação de incerteza, pelo que podemos perceber, parece ser uma constante entre tantos setores carentes da sociedade, incluindo neste caso, especialmente, a vida dos assentados.

    O que o governo faz diante destes problemas imensos é muitas vezes, infelizmente, se eximir de culpa e de atitudes.

    Taí uma boa discussão Kátia, e acho que temos o dever, como futuros formadores de conhecimentos, de discutir estas questões e tentar ajudar nosso país a encontrar alguma solução para o problema.

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  2. Eu acho que a situação vai muito além da vontade humana.Pois, o que falta não é vontade de melhorar as situações constantes e humilhantes de boa parcela da população, mas a falta de oportunidade que se torna uma variante significativa nessa luta por igualdades sociais.O que me intriga é que ainda em pleno século XXI, falamos de "igualdades sociais", "direitos comuns", e "respeito a todos sem distinção de classe, credo, ou cor", sendo que na prática essas políticas são contrárias.A parcela mais significativa e construtora da nossa própria História formada por homens e mulheres que lutam até hoje por dignidade, são as classes minimizadas diante dos direitos, excluídos de maneira hipócrita e mesquinha.

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