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ONE BOURBON, ONE WOMAN, ONE BEER




por Gustavo Almeida*

Dentre as minhas crenças inabaláveis, há uma que figura no campo espiritual e em qual eu quero crer firmemente. Eu acredito sinceramente contrariando a bela e triste história de Adão e Eva (a primeira das tristes histórias de amor - sem esses dois, Romeu e Julieta não teriam existido) que Deus criou a mulher primeiro e só depois criou o homem para que ele pudesse ficar olhando pra ela, embevecido. 

E pra quem como eu, que anda de bar em bar pela noite, cruzar com os mais belos e intrigantes espécimes do sexo feminino é bastante natural. Com isso meus torcicolos se multiplicam quase equivalendo à quantidade de doses de whisky que vou dando cabo entre uma partida de bilhar e uma piada sem graça.

Não quero aqui dizer que as mulheres boêmias são as mais interessantes. Apenas acho que elas sorriem de um jeito leve sem um destinatário definido. Uma mulher linda voltando do banheiro com o vestido esvoaçante e sorrindo pra você (o que eu quero dizer é que ela pode não estar sorrindo diretamente pra você) vale por várias noites solitárias e embriagadas na frente de uma tela de computador buscando a palavra exata e talvez a tal palavra só venha quando você lembrar dela sentando à mesa com as costas nuas e sorvendo graciosamente uma taça de Vinho Santa Ana. 

Por que os homens reviram na cama e levantam sobressaltados de madrugada? Por que ficamos sozinhos na cozinha, com uma garrafa de whisky e o blues "Since i’ve been loving you" do Led Zeppelin no repeat enquanto a chuva cai inclemente lá fora deixando tudo ainda mais desgraçadamente poético e melancólico? Por que queremos sempre mais de uma mulher? Por que elas nos consolam na calçada e a aí a gente se sente como um cachorro vagabundo e grato? Por que então não conseguimos simplesmente tomá-las pela mão e voltar pro bar? Por que queremos encrenca? Por que de algumas queremos uma vida a dois, uma paixão violenta, promessas de amor eterno e uma separação tumultuada, três horas depois, com direito a humilhação pública, tribunal, porrada e pensão alimentícia? Por que de outras queremos que o telefone esteja sempre desocupado e um convite quase displicente de um encontro no meio da tarde? Por que ficamos a mercê das manhãs que demoram a chegar? Por que aquele flash back imprevisível quando fazemos o mesmo percurso da Marcelino Pires com um aperto filho da puta no coração? 

E já sabemos que estamos todos derrotados, a espera eminente do fim com um interceptor no nosso calcanhar aterrorizando ainda mais nossos pesadelos de entrega de alma. Da nossa alma estuporada e com prazo de validade vencido, mas ainda assim uma alminha que pode ficar pendurada entre uma nuvem e outra. 

Por que quando estacamos na rua, com um funkezinho martelando o nosso MP4, já na ilusão de estar tudo bem, elas aparecem com propostas irrecusáveis de inferno e desordem? 

E nós, brucutus desengonçados, com pouco talento para resistir às mais vulgares tentações, sempre caímos de cabeça, sacamos nossa alma das nuvens e nos submetemos àquela vozinha doce que diz ainda mais suavemente "continua mordendo devagar aí perto da orelha". 

Aí, meu Brother, já era. Não há Dr. John ou Bruce Willis que vá livrar sua cara. E é mais um poema no verso da conta da loja de roupas, mais um blues desesperançado pra ninar inquietudes. Mais uma oração para um Deus de ressaca que te olha nos olhos e diz sereno entre raios e trovões: "Foi pra isso mesmo que te criei, seu trouxa".

Então, com tudo isso elas deviam entender porque a gente se senta em uma mesa de bar e passa horas falando mal delas. Elas deviam entender. Elas têm que entender. Um dia elas vão entender?


* Gustavo B. de Almeida é Mestre em História pela Universidade Federal da Grande Dourados (UFGD).

** Originalmente postado em 5 de dezembro de 2007

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1 Comentários

  1. gustaaaaaaaaaaaaa

    mto bom....adorei!!!vc escreve mto bem meu amigo!!!

    sucesso pra vc!!!

    bjinhuss

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