Ticker

6/recent/ticker-posts

O intelectual como crítico politicamente engajado



Por Jean Menezes*


Entendemos que o trabalho intelectual é possuidor de suas problemáticas endógenas as quais podem ou não contribuir para a sua crítica autocrítica. Por crítica autocrítica entendemos o exercício que faz o intelectual (especificamente os historiadores) que postula considerações epistemológicas permitindo-se auto-avaliar e também ser avaliado, ou seja, criticado pelo outro sem o embargo da prática deste exercício (DEMO, 1982).

Entre historiadores a crítica não se limita às fontes (“documentos”), estendendo-se também aos seus pares produtores da escrita da história, cada qual com seus preferenciais teórico-metodológicos postuladores de um objeto concreto ou abstrato na História. Diante deste contexto, os intelectuais da história se digladiam cognitivamente um diante ao outro (GRAMSCI, 1984), mas vacilam por vezes ao não admitirem serem também objetos das mesmas críticas que produzem sobre o conhecimento.

A isenção ideologia apresenta-se neste bojo como portadora da infalibilidade intelectual do historiador diante de um objeto distanciando-o do romantismo e de possíveis deslizes por conta da moral que esta embute no intelectual. Ora, esta sentença seria verdadeira em absoluto se não fosse pelo fato de ela ser por si mesma uma possibilidade bastante inócua de se fazer absolutamente enquanto científica. Pois, não seria o discurso da isenção ideologia também uma manifestação moral da ciência? Assim entendemos que os postulados da produção intelectual não estão imunes as ideologias e seu código moral, não se levarmos em consideração que todo intelectual, historiadores e os demais cientistas sociais, fazem parte diretamente ou não de um recorte social e político que busca na universidade, seja o seu remanso particularista ou a sua plataforma ideológica de contestação e status acadêmico socializador da intelecção libertária.

A posição epistêmica do intelectual segue por variados referenciais, do positivismo ao pós-modernismo contemporâneo, passando também pelo estereótipo materialista dialético humanista (CARDOSO, 2005). Assim, os intelectuais devem ser entendidos como uma massa cinzenta heterogênea catalisada pelas universidades, onde representarão a sua vontade de poder individual/grupal ao qual pertence, e mesmo a vontade de poder individual/coletiva (DEMO, 1982). Ambas representantes de uma sociologia da ciência já que não se limitam à produção epistemologica apenas para o bel prazer, pois a fazem conscientes ou parcialmente conscientes de que representam um recorte social.

Evidentemente encontraremos na universidade uma vasta rede de tipos ideais de intelectuais, uns despreocupados com a organização social, seja por representarem o recorte que se faz hegemônico da organização político-administrativa do Estado, ou, mesmo por estarem confortáveis diante da alienação política que lhes parece desinteressante acerca do interessante mundo das representações intelectuais as quais lhes garantem títulos e honrarias, além de um salário estatal para reproduzirem de forma técnica os elementos favoráveis à manutenção do grupo político que administra a coisa pública (DEMO, 1982). Outros, preocupados com a organização social e a instrumentalização de um novo grupo hegemônico que venha a substituir a hegemonia vigente do estado. Referimos-nos ao intelectual orgânico de Antonio Gramsci. Dotado de um engajamento diferente do primeiro e que se pretende capaz de representar o recorte social que não se efetiva no poder por não possuir suas ideologias consolidadas na sociedade marginal como um todo.

Como podemos, a priori, apresentar, a universidade acaba por se enquadrar ou ser enquadrada como uma paisagem de defesa do intelectual orgânico seja ele o da ideologia do estado vigente ou daquela que visa à busca da hegemonia no atual Estado. Em ambos os casos, os intelectuais postulam a representação das massas populares, colocando-se em função de estudá-las e apresenta-las e mesmo de apresentar a elas o estudo que as representa na busca, seja pela manutenção da ordem vigente ou pela luta consciente de classes marginais rumo à hegemonia de um novo estado de coisas.

É neste espaço da produção intelectual científica que se encontra nosso objeto de estudo, a priori. É na universidade que órbita nossas preocupações também espistêmicas sobre a produção intelectual acerca da história e do engajamento político do intelectual. Que tipo de engajamento vem sendo feito? Há engajamento?

Ao observarmos o crescente discurso da “pós-modernidade” (MENEZES, 2007) entre os intelectuais nas universidades públicas e privadas, grosso modo, contraditório à proposta iluminista de racionalidade científica, e também contrários a proposta racional de emancipação do materialismo histórico dialético, é de se estranhar, minimamente, a pretensão que identificamos em alguns grupos de intelectuais para a década de oitenta no Brasil. Um estranhamento limitado se levarmos em consideração que nesta mesma década no Brasil se constituiu em um momento histórico onde as expectativas eram múltiplas e positivas sobre a democratização e a liberdade engajada de vários recortes socioeconômicos brasileiros.

Pretendemos assim, contribuir minimamente sobre o papel dos intelectuais e suas problemáticas para a militância nos dias de hoje.

*Mestre em História pela UFGD e Doutorando em Ciências Sociais pela Unesp/Marília.

Postar um comentário

0 Comentários

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...