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A face da violência na escola


Adriano Duarte
Humberto Trezzi

Anos de descontrole, indisciplina e desrespeito dos alunos para com os professores que atuam nas escolas gaúchas produziram ontem um cadáver.

O professor Ozório Alceu Felini, 45 anos, morreu em função de facadas desferidas oito dias antes por um aluno da escola onde atuava, em Vacaria. A morte reavivou uma dúvida que está na cabeça de cada brasileiro que atua com educação: até onde irá a violência nas escolas? Sim, porque a tragédia de Vacaria está longe de ser um episódio isolado.


O educador tentava apartar uma briga entre duas alunas quando foi esfaqueado supostamente por um rapaz de 18 anos, estudante do 1º ano do Ensino Médio. O incidente aconteceu dia 17, na Escola Técnica Estadual Bernardina Rodrigues Padilha (que funciona em prédio de antigo Ciep). Felini se recuperou parcialmente dos ferimentos e chegou até a falar sobre a agressão sofrida.

- Não entendi por que o rapaz fez aquilo. A maioria dos estudantes dessa escola é formada de jovens bons, de famílias trabalhadoras. Apenas um pequeno percentual arruma problemas - declarou na ocasião, em entrevista ao jornal Pioneiro, de Caxias do Sul.

Na terça-feira passada, Felini sofreu uma recaída, com infecção. Ontem, ele não resistiu. A morte comoveu o Estado. Os mais de mil professores de Vacaria ameaçam suspender as aulas esta semana. Na escola onde aconteceu o crime, os funcionários decidiram fechar as portas até amanhã.

Nem a prisão do suposto agressor de Felini - que nega participação no crime - acalmou os colegas do educador assassinado. Eles pretendem fazer uma caminhada pelas ruas de Vacaria e parar em frente a órgãos de segurança do município, como Polícia Civil, e do Fórum. Segundo a professora Cassiane Vieira, 29 anos, o protesto espera a adesão das outras 10 escolas estaduais da cidade.

Nos últimos cinco anos, pelo menos cinco professores gaúchos sofreram fraturas ou ferimentos graves provocados por alunos. Foram feridos ao apartar brigas - como Felini - ou em represália dos estudantes as tentativas de botar ordem na aula.

O levantamento deixa de fora a violência entre os estudantes, de tão cotidiana que é. Ela deixou, no ano passado, praticamente cega de um olho uma aluna da mesma escola onde o professor Felini foi ferido de morte.

Indisciplina é uma das maiores preocupações, segundo pesquisa

Uma pesquisa divulgada este ano pelo Ministério da Educação (MEC) relata que os problemas disciplinares apresentados pelos alunos são o segundo pior dilema diagnosticado pelas escolas de Ensino Fundamental. Perde somente para a insuficiência de recursos financeiros. Nada menos do que 64% dos diretores de colégios estaduais pesquisados pelo ministério, 53% dos municipais e 46% dos privados relataram que a indisciplina é uma das suas maiores fontes de preocupação.

Especializada em violência, a psicóloga e psicanalista gaúcha Mari Gleide Maccari Soares diz que o grande fantasma nos colégios até uma década atrás era a droga. Agora é a violência, muitas vezes causada pelo uso de entorpecentes.

A caminho do velório de Felini, a presidente do Cpers-Sindicato (que congrega professores estaduais), Simone Goldschmidt, reconheceu a Zero Hora que inexistem no Estado levantamentos sobre violência contra trabalhadores das escolas.

- É hora de fazermos isso. E também de o país ter políticas públicas de investimento nas pessoas vulneráveis ao crime, sejam elas vítimas ou autores em potencial. Temos de reavivar hábitos e valores saudáveis, do contrário teremos mais episódios lamentáveis como esse de Vacaria, que estão se tornando banais.

Mari Gleide e Simone comungam numa certeza: a autoridade do professor tem de ser restaurada na escola. Mais com diálogo do que com repressão, mas o sagrado direito de comandar a aula deve voltar a imperar. Resta saber como fazer isso antes que novas mortes voltem a manchar a já violenta rotina das escolas gaúchas.

Fonte: Jornal Zero Hora (zerohora.clicrbs.com.br/zerohora). Porto Alegre, 27 de março de 2008.

Olá pessoal! 

O problema da violência no ambiente escolar, realmente esta tomando rumos que até pouco tempo atrás, não nos parecia possível que chegasse a tamanho nível de brutalidade. De uma problemática de discussões, indisciplinas e desrespeito à autoridade do professor, chegamos lentamente a problemas mais graves como este caso de homicídio.

Sei que a notícia é realmente muito triste, mas devemos entrar em contato com todos estes exemplos, para que possamos tentar fazer o melhor em nossa valorosa profissão de educador, tentando contribuir da melhor maneira para que esta situação tenha um fim e a educação em sala de aula tenha um futuro melhor.

Data original da postagem no blog: 27/03/2008

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3 Comentários

  1. Realmente é complexo o entendimento do mundo em que vivemos, inda mais quando adentramos os recintos escolares. Como compreender a violência que ocorre nas escolas? Será que isso é culpa dos pais que não "educam" seus filhos ou que por seus problemas familiares influenciam nas persepções de mundo das crianças, adolescentes e futuros jovens e na sua formação pessoal? Não é um objeto de estudo da História e nem pretenção sua fazer psicologia dos alunos, mas se torna importante sabermos o que acontece com o nosso futuro alunado, indo mais no caso de uma formação licenciada. Afinal teremos que "enfrentar" tais problemas e precisamos estar pelo menos atentos ao que poderemos defrontar em nossa vida de docentes. Achei interessante esse levantamento de questão e a notícia que o Mathiel colocou, por isso propus uma enquete, espero que participem, pois acredito que será útil para buscar algumas pssíveis soluções.

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  2. Realmente,percebo do porque ea violência vem aumentando no ambiente escolar.Devido a cumplicidade das autoridades incumbidas de proteger a figura da criança e do adolescente fazendo com que a maioria das vezes estes alunos sejam alvos de acuzações levianas e sordidas.Tudo para proteger a imagem da administração pública e do bom professor,onde ele manda e desmanda.Daí vem o perigo a criança fala,tenta falar,mas o que fazem distorcem,mentem inventam historias e jogam a culpa para uma familia desestruturada e uma mãe desequilibrada.Bem posso dizer que depois da professora e mais as autoridades em 5 anos de desgraça na minha vida e de meus filhos,venho aqui discordar de tudo que falam.Pois não existe esse ou aquele culpado,mas sim existem seres humanos com indoles propensas para o mal,e mais o pior ao meu ver pessoas interessadas esclusivamente em proteger seus interesses de ordem pessoal ,no caso de meu filho o poder público.Tentei enviar meus relatos mas o espaço é pequeno estarei colocando minhas gravações onde meu filho de 6 anos sofreu assédio moral pela autoridade máxima que é a professora quando tinha 6 anos e diziam que ele mentia e so ao gravar confirmei,mas até aí ele teve todos os sintomas que a senhora descrevera,febre,vomito e diarréia. pois ele a pode claro as crianças é que são problemáticas, com familia desestruturda,sera que elas possuem uma familia perfeita ou sera que estão contente com o salário,não poderia ser o inverso também,e das autoridades coniventes,seriam eles as pessoas certtas para ditarem as regras na vida dos outros,sendo que a cada dia vemos os variados maus exemplos dentro do nossos 3 poderes legislativo, judiciário e executivo.Quem são os culpados por tanta corrupção e mal exemplo de conduta etica.E pior em quanto a casa não cai eles julgam sem ter moral.Muito obrigado por trem o direito de fazerem parte daqueles que se acham donos da verdade.

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  3. Muito bem priscila, você chama a atenção pra uma realidade das chamadas "nações democráticas", que é das figuras que compõe a hierarquia social, ou seja, quêm possue o poder de mandar e desmandar: os governantes e neste casos os professores e corpus escolar de maneira geral. Como você bem disse, é recorrente colocar nas costas da família e do próprios alunos a culpa de suas ações, ou reações, eximindo-se de culpas que em muitos casos são deles mesmos.


    Vemos que nossa sociedade é bastante complexa para criarmos respostas fáceis, e que é preciso que professores e escola despertem para a necessidade de serem sensíveis aos multiplos casos, procurando, antes de botar a culpa em alunos ou famíliares de alunos, e consequentemente em suas condições sociais, refletir sobre suas próprias ações também.


    No texto de Adriano Duarte e Humberto Trezzi, divulgados pelo amigo Mathiel, o que se coloca primeiramente em foco é a ação dos alunos. E por se tratar de uma notícia o que se pode ver é, sobretudo, a narração do ocorrido, e não uma análise profunda dos dois lados.


    Na sequência os autores falam a respeito de uma pesquisa do MEC, onde este relata que "os problemas disciplinares apresentados pelos alunos são o segundo pior dilema diagnosticado pelas escolas de Ensino Fundamental". O primeiro é evidentemente o de insuficiência de recursos na educação pública.


    Por isso, acho muito pertinente suas acusações e volto a dizer que é extremamente importante uma conscientização no sentido de se analisar "os dois lados da moeda", não se retendo só a "coroa", mas levando em conta também a "cara". Ou seja a multiplicidade de questões que devem ser levadas em conta na análise do ambiente escolar.


    Para dar um exemplo, mas sem estar diretamente ligado ao caso, terminei recentemente uma pesquisa sobre o "imaginário indígena dos alunos" numa escola de Dourados-MS. E constatei que na criação de visões preconceituosas dos alunos sobre os indígenas contribuem uma gama ampla de fatores, e que suas idéias não "brotam" deles mesmos ou do acaso.


    Fica da minha parte uma dica prática, que aliás você disse que já está fazendo, e serve para todo: não acreditem em tudo e nas versões apresentadas por professores e direção da escola. Respeito é um fator primordial nas relações humanas, mas sempre duvide!

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