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"O artista" e eu



Quando entrei no cinema no último sábado, 3 de março de 2012, para ver "O Artista", achei que seria mais um dia perdido, onde eu serviria apenas como grata companhia. A impressão era de que me deixaria tomar pelo sono e só acordaria nos créditos finais do filme.

Bem, não foi o que aconteceu... na verdade fui envolvido por uma sensação de que o que me parecia uma óbvia perda de tempo (e tinha razões para acreditar nisso, pois se tratava de um filme mudo e em preto e branco), se tornava na verdade um momento único de experimentação. Mas experimentação do que exatamente?


Experimentação ao perceber que esta havia sido uma ótima oportunidade para desfazer preconceitos e superar estigmas. Somos inundados corriqueiramente por filmes hollywoodianos "superproduzidos", cheios de efeitos especiais e com recursos de altíssima tecnologia. Neste filme francês o que vi foi um homem, George Valentin (Jean Dujardin), que acreditava no que via e vivia; que se deixava levar por uma vida confortável, acreditando que esta jamais mudaria. Que vivia o sonho de ser sempre uma figura estelar do cinema mudo. Um personagem de certa forma envolvente e enigmático. Afinal como entender um mundo em que ninguém fala e onde tudo tem tons de cinza?

Foi assim que eu aprendi que nas poucas cores encontramos a beleza poética de um personagem imaginário, inserido em uma história fictícia, cujo enredo nem é assim tão original (basta ver "Cantando na chuva", com Gene Kelly, feito na dácada de 1950, em pleno EUA do welfare state), mas que soube construir de forma original sentimentos e sensações, prendendo a atenção do público por 1 hora e 40 minutos, sem que uma única pessoa se levantasse e fosse embora (apenas quando uma velha senhora levantou achei que isso aconteceria, mas me enganava, ela fora compra água e voltou).

É a história de um homem em crise de existência, seus fieis cão e chofer, somados à uma fã apaixonada que vira uma substituta indesejada, Peppy Miller (Bérénice Bejo). É a "estória" do cinema contada por quem o viveu, com o fundo realista de um mundo em crise (a Grande Crise de 1929) e da introdução do novo e revolucionário, o som, no interior do tradicional e conservador, dominado pelo silêncio. 

É antes de tudo uma mostra psicológica da sociedade em que vivemos e de como é difícil nos disfazermos das nossas velhas e saudosas experiências que são invadidas e ultrapassadas sem que possamos impedir.


Trailer do filme




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