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Vida de colona: Joaquina Dionísio | José A. Fernandes

Dona Joaquina, sorriso cativante

Durante as minhas pesquisas para o mestrado pude entrevistar algumas pessoas. Algumas bem técnicas e diretas, mas outras bem interessantes. Um exemplo desse último caso é o da dona Joaquina Araújo Dionísio*.

Ela nasceu em julho de 1922, em Rio Brilhante, então Mato Grosso. De pais gaúchos, mãe de Vacaria e o pai de São Borja, rodou por muitos cantos, tendo passado no estado por uma localidade chamada Aroeira, depois outra chamada Guaçuzinho, onde havia terras dos avós maternos e onde também se casou anos depois.

Era uma jovem casada, de 25 anos, quando finalmente se mudou para Jateí, onde mora até hoje. Como muitos outros colonos, ela e o marido requereram um lote através dos tramites legais da Colônia Agrícola Nacional de Dourados (a CAND). Por a então Vila Jateí ser um lugar afastado da Administração da Colônia (tendo inclusive, ao que se sabe, uma parte sua fora do território da mesma) demorou para sentir a presença dos colonos, sendo que “depois cum 10 ano foi chegando o povo” (meados da década de 1950).

A vida dessa receptiva senhora foi marcada por uma tragédia pessoal. O marido, próximo do período em que ia conseguir a documentação do lote morreu acidentalmente, ao que diz, com um tiro de sua própria carabina. Daí ela mesma terminou criar os filhos e documentar o lote em que morava. Já tinha alguns dos seus filhos - “Moremo 30 ano no lote” [até finais da década de 1970], vindo depois para a área urbana da cidade de Jateí.

Segundo ela, não teria recebido ajuda nenhuma da Administração da CAND, “num tinha ajuda não. Ajuda era os braço da gente”. Foi assim que, com a família, plantou “de tudo”: algodão, milho, amendoim, feijão. O que produziam era vendido para intermediários regionais, tendo em vista ainda que as condições de escoamento de quase tudo que se produzia na Colônia eram precárias, exceto para um produto: a erva-mate.

Produto que sobreviveu em muitos pontos no decorrer da colonização da região hoje conhecida como Grande Dourados, a erva-mate tinha um mercado regular e garantido. Nem ela nem seus familiares trabalharam com erva-mate, “só roça que nóis toquemo, num foi erva-mate”, mas em seu lote “tinha argum pé, num era muito...”, que era vendido para algumas pessoas que o extraía.

Claro que, como essa senhora, muitos outros colonos passaram poucos bocados, muitos vindo a desistir e vender seus lotes por preços ínfimos. Não que ela seja diferente de muitas outras mulheres que trabalharam muito para conseguir sobreviver. Mas, sem delongas, foi assim que, sendo humana, com suor e esforço pessoal ela se manteve todos essas anos. Foi assim também, com um sorriso cativante, que a encontrei, em boa saúde, no auge de seus 90 anos.


José A. Fernandes e Dona Joaquina, 16/dez/2011.




*Colaboraram diretamente na entrevista e com as fotos o prof. Dr. Eudes F. Leite e o amigo e colega de profissão Alan Luiz Jara.

** Publicado originalmente em 27 de outubro de 2012.

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