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Especial Primeira Guerra (parte 04): a hecatombe do século XX

  

A Grande Guerra não era para ser tão grande, pelo menos era o que se esperava. Mas quando aconteceu e terminou o mundo viu o estado de bárbarie a que chegara a humanidade, superando todos os seus limites anteriores e deixando um rastro de destruição sem precedentes. 

Com algumas exceções, quase o mundo todo de alguma forma se envolveu nessa hecatombe do século XX! 


Até 1914, o mundo nunca tinha visto algo tão destruidor e longo como a Primeira Guerra. Isso porque a Europa, com respingos nos demais continentes ao redor do mundo, vivia desde fins do século XIX uma Belle Époque, imaginando um progresso sem barreiras, de carona nas ciências e tecnologias, rumo a um mundo sem sofrimentos e do menor esforço (ao menos para as classes mais abastadas e as potências imperiais).

A princípio, quando as hostilidades começaram, elas não eram mais do que conflitos de um continente. Além disso, esperava-se um fim rápido. Mas logo a Grande Guerra deu-se a ecoar e pessoas puderam inclusive acreditar no "fim do mundo", no cataclismo da "civilização", no início da Era da Catástrofe**, entre outras previsões apocalípticas. 

Nunca antes na história tantos grupos diferentes e tantos continentes se envolveram num mesmo esforço de destruição. Mulheres, crianças, velhos soldados, exércitos coloniais, etc.. Todos, direta ou indiretamente, se esforçavam em prol de uma causa que nem sempre era sua. Não que todos estivessem de acordo com a guerra - grupos pacifistas logo se manifestaram e países colonizados tentavam sair da condição de dominados -, mas estavam todos presos na teia da "aranha" das chamadas "Nações Civilizadas". 

Os "papéis das mulheres", 
publicado em Paris em 1917

Para manter o estado de guerra, criaram-se "bônus de guerra" (em algumas propagandas chamados de "bônus da vitória" ou "da liberdade"), empréstimos de guerra, campanhas para preservação de alimentos; instalou-se o sistema de alistamento obrigatório; incorporaram-se as mulheres como enfermeiras ou funcionárias do setor industrial (incluindo a fabricação de armamentos). 

Ruínas em solo francês.

Nesse contexto, ganha destaque mais uma vez a ação da Cruz Vermelha Internacional. Uma organização concebida em pleno campo de batalha da Guerra da Crimeia (1853-1856), por Henry Dunant, como um conjunto de fundamentos segundo os quais os civis deveriam ser poupados e os feridos tratados, independentemente da facção a que pertencessem. Algo que viria a contribuir para “humanizar” as guerras. Henri Dunant chegou a receber o Prêmio Nobel da Paz (1901) por este feito.

A ideia era "humanizar" a guerra, poupar os civis… e crianças. "O que se verificou foi exactamente o contrário. Os conflitos do século XX, [...], foram um espelho disso. A Primeira Guerra Mundial, a Guerra Civil de Espanha e sobretudo a Segunda Guerra Mundial fizeram com que as crianças entrassem em massa nos conflitos como actores, mas principalmente como vítimas, vítimas da violência cega dos campos de concentração e dos bombardeamentos que se abatem indiscriminadamente sobre as populações civis" ***.


Cena comum em Flers, região do Somme (s.d.)

Não podemos ainda, tomando-nos como foco, esquecer da posição do Brasil na Primeira Guerra. Perdemos navios, perdemos cargas, perdemos vidas. Devemos ser breves aqui, mas cabe lembrar de que mantínhamos condição neutro no início, entrando já no final de 1917, quando a Primeira Guerra encaminhava para um desfecho. Nossa declaração de guerra ao Eixo só veio em 26 de outubro do mesmo ano, sendo dada ao Exército brasileiro como missão o patrulhamento do Atlântico Sul, mais especialmente na costa africana. Partiram do Rio de Janeiro em maio de 1918, parando em Salvador e Fernando de Noronha, só deixando a costa brasileiro em 1º de agosto! 

A tripulação de nossa pequena divisão de navios enviada para combater foi atacada por um submarino alemão próxima de Dakar e passou sem grandes danos; mas já em Dakar, deu a padecer de gripe espanhola, a partir de 6 de setembro: "no fim de dois dias, as tripulações de todos os navios haviam sido contagiadas, e com tal força que cerca de 95% dos seus efetivos encontravam-se em completo estado de prostração"****. A gripe só foi considerada extinta em outubro, após fazer 249 baixas entre mortos e doentes afastados. De Dakar, seguiu a divisão brasileira, progressivamente mais desfalcada, com destino a Gibraltar, onde chegou em 10 de novembro, um dia antes da assinatura do armistício que pôs fim à Guerra. 


Cruzador Bahia, que fez parte da frota 
brasileira da Primeira Guerra

Mas, encerremos por ora, a nossa participação na Grande Guerra e nos voltamos para o cenário mais amplo, lembrando que inclui também tantos outros países, como o nosso, que dependiam do comércio internacional ou das migalhas que sobravam dos poderosos impérios europeus. Mas, sobre o começo do fim da Era dos Impérios veremos em nossa última postagem dessa série, na semana que vem.

O que nos resta aqui é saber que, quando as hostilidades da Guerra se encerraram em 1918, com o armistício, e depois oficialmente com a assinatura do Tratado de Versalhes, em 28 de junho de 1919, ficou a certeza de que até mesmo quem venceu se viu perdedor. Quase todas as grandes potências do mundo naquele período estavam devastadas, com suas economias afetadíssimas. A única grande exceção foram os Estados Unidos, que terminaram, na verdade, como os únicos "vencedores".


Rua Eugene Desteuques, Reims, França 
(31 de março de 1917)

Sugestão de livro:

livro primeira guerra mundial
A Beleza e a Dor: 
Uma História Íntima da Primeira Guerra Mundial
Peter Englund 
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* As imagens desta postagem foram extraídas dos seguintes sites: 
** HOBSBAWM, Eric. Era dos extremos: o breve século XX (1914-1991).Cia das Letras, 1995.
*** A guerra contra as crianças – Claire Brisset. Disponível no blog Exploração do Homem.
**** Desventuras em série. Disponível no site da Revista de História da Biblioteca Nacional: http://www.revistadehistoria.com.br/secao/capa/desventuras-em-serie.

Originalmente postado em 20/jun/2014

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3 Comentários

  1. Como foi difícil esta época para as pessoas que perderam tudo, familiares e bens.
    Adorei o texto.

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    1. Que bom que gostou Erivaldo... pra gente que não viveu naquela época é difícil e em muitos casos impossível ter ideia da dimensão real do que aconteceu.

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