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A imaginação na História: achismo ou possibilidade? | José A. Fernandes

   

Não é de hoje que os historiadores buscam a "verdade" da História. O problema é que sabemos que existem muitas "verdades" e as respostas sempre deixam dúvidas, por causa das limitações impostas pelas fontes. É aí que imaginar é preciso.

Podemos ter um conjunto vasto de fontes, de perder de vista, mas isso não nos garantirá uma história "completa" do tema que estudamos. Afinal, não é de hoje que sabemos que não existe reconstituição em História (com letra maiúscula), o que fazemos é construir uma "paisagem", sempre limitada pela vista embaçada pelo tempo, que está cada vez mais distante do que chamamos de presente.

Se nossa visão é embaçada, sempre nos restarão dúvidas; questões não ou mal resolvidas ou detalhes imperfeitamente observados.

É aí que entra uma coisa extremamente importante, destacada em um texto que li de Jim Sharpe* (embora tantos outros tratem do assunto): a imaginação. Ao contrário de achar alguma coisa, ela tem seu papel no sentido de interagir com a erudição, ampliando a visão do passado. Para este autor, por exemplo, os historiadores que trabalham com a História de pessoas comuns, aquelas que tem a visão de baixo, mostraram como o uso do imaginativo quando da leitura das fontes pode esclarecer aos pesquisadores muitas áreas da História, que de outra forma poderia se supor estarem mortas e condenadas a permanecer na escuridão.

É como diz John Lewis Gaddis em um velho texto lido em épocas de mestrado**, que o passado perseguido pelo historiador, está "escondido na neblina", sendo observado como quem olha do Everest, bem do alto, perdendo em nitidez e detalhes. 

Entendemos com isso ser nossa função “imaginar” possibilidades explicativas, no sentido também de mostrar caminhos a serem percorridos ou preencher lacunas, que nos nortearão como hipóteses, sendo estas ao longo de nossas pesquisas confirmadas pelas fontes e análises destas ou não.

Digo isso porque para alguns historiadores "positivistas" e "historicistas" como Ranke, "imaginar" é fugir da verdade factual. Nisso, não podemos lançar hipóteses, sob o risco de sermos subjetivos, devendo antes de tudo (como se fosse totalmente possível) sermos objetivos e velar pelo que as fontes nos dizem. O que esquecem às vezes é que nossa disciplina é Humana, nossas fontes foram feitas por humanos e nossos personagens fazem parte da raça humana. Por isso o conjunto do que estudamos é "problemático" e portanto... devemos problematizar, o que inclui ao meu ver IMAGINAR.

Como não somos nem autômatos, "massa" sem personalidade e nem mesmo apenas estatísticas, podemos terminar com o que nos disse Marc Bloch a respeito do ofício do historiador, cabendo bem a essa postagem: “onde calcular é impossível, impõe-se sugerir”***.

Dica de livro:
A Escrita da História 
de Peter Burke

SHARPE, J. A história vista de baixo. in BURKE, Peter. A escrita da História: novas perspectivas. São Paulo: Editora UNESP, 1992.

** GADDIS, John L. Paisagens da História. Rio de Janeiro: Editora Campus, 2002.

*** BLOCH, Marc. Apologia da História ou o ofício do historiador. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2001.

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