O último livro escrito pelo grande historiador Jacques Le Goff, falecido em 2014. Neste livro ele analisa o problema da periodização da história, tomando como base a fatia de tempo conhecida como "Idade Média".
Para ele, aquele período histórico foi muito mais longo e profícuo do que reza a historiografia tradicional, engloba os anos aclamados como Renascimento e se estende até meados do século 18.
A Idade Média seria emblemática da pouca consistência do método convencional de divisão da História em pedaços de tempo. Tomando a antiga periodização, segundo Santo Agostinho, a partir do livro de Daniel, da Bíblia, até os tempos modernos, Le Goff defende que a ideia de Idade Média não existia até então: o conceito, afirma, nasce com Petrarca e começa a se desenvolver durante a Idade Moderna, quando também passa a ter uma conotação negativa.
Ele considera ainda que o estabelecimento do ensino de História, disciplina instituída aos poucos e relativamente tarde no Ocidente, contribuiu para a consolidação do termo e da periodização, por demandar a sistematização cronológica dos acontecimentos.
Para o historiador, além disso, a Idade Média não foi simplesmente um período de obscuridade “entre” o fim da Antiguidade e o chamado Renascimento, quando os humanistas a redescobrem. Os séculos 16 a 18, ele enfatiza, pautaram-se na cultura clássica, cultuaram vigorosamente a herança antiga, como as chamadas “artes liberais”, a medicina e o latim, e valorizaram também a razão, com a escolástica e a teologia.
Le Goff escreve:
“A periodização, obra do homem, é portanto ao mesmo tempo artificial e provisória. Ela evolui com a própria história. Em relação a isso, ela tem uma dupla utilidade: permite melhor controlar o tempo passado, mas também sublinha a fragilidade desse instrumento do saber humano que é a história”.
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* Texto adaptado de Livraria Unesp.
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