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Entre Zé do Prato e Tião Carreiro, o locutor era eu



Quando alguém diz que viveu bem a infância, em alguns casos inclui algum objeto ou viagem espetacular. No meu caso, algumas das melhores lembranças estão relacionadas ao que vivi com meu pai e as músicas que ouvia no rádio, num universo dividido entre Zé do Prato, rodeios* e Tião Carreiro (com ou sem Pardinho).

O blog não é um muro das lamentações - não quero me lamentar aqui, só quero usar a nostalgia para contar um pouco da história do interior de São Paulo. Ao menos aquela que vivi em Urupês, uma pequena cidade de interior, que na década de 1980 contava com poucas ruas asfaltadas e onde a diversão coletiva, em grande parte, ficava concentrada nas festas de peão.

Dessa pacata cidade saí os 3 anos, voltando depois com 5. Podem duvidar, mas tenho algumas lembranças nítidas dessa época, embora fosse bem pequeno - o que acabou ao longo dos anos sendo somado ao que me foi contado pela família. É assim que me vem sempre algumas imagens dos 3 primeiros anos, quando pude ver peões, cowboys e rainhas, montando, caindo e desfilando, tudo com a narração de Zé do Prato. Uma voz marcante, daquelas que grudavam em minha mente e me fazia brincar no quintal de areia de casa com os bois e cavalos de louça do pai. 

O rodeio era completo: tinha cerca, brete e narração. Não precisa nem dizer que a cor do moço famoso não me impedia de ser eu também o Zé, do Prato. Fazia tudo certinho, com bordões e tudo, começando sempre com o "Boooua Noite, boooua noite", que lhe era característico e terminando com suas despedidas sempre emocionadas e emocionantes.

Era uma época em que os bois que eu tanto adorava pareciam bem maiores do que eram para um menino magrelo que vislumbrava...

Nesse tempo, Tião Carreiro tocava no velho rádio azul de pilhas do outro Zé (meu pai). De madruga, antes de ir pra creche, ou à noite, quando nos colocávamos diante do aparelho para ouvir o Rei do Sertanejo, acompanhado de tantos outros xitãos, xororós, rouxinóis e colibris. Nunca o vi cantar pessoalmente, mas nem precisei pra ter na mente os dias de música em ondas médias, grudantes nos anoiteceres diários.

Claro que a vida mudou muita coisa, como é normal entre os humanos. Em 1988 eu já morava na cidade em que nasci (Catanduva-SP) e quando voltei à Urupês, Zé do Prato já não estava mais lá (ou pelo menos não o vi mais; ele morreu em 1991). Do que me lembro, já eram outras as vozes nos palanques e arenas e, ao menos pra mim, pouco havia de novo de Tião Carreiro para ouvir.

Por fim, não pensem que hoje estou infeliz e que acredite que o passado fosse melhor. Apenas quis mostrar com essas memórias que as coisas que vivemos nos trazem boas lembranças - afinal, tudo é passado a todo instante, assim como as horas que se passaram desde que comecei a escrever. Tudo foi vai tornando passado e, portanto, lembrança também. Lembranças de Zé do Prato, Tião Carreiro e da minha infância...


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* Não estou fazendo apologia aos maus-tratos aos animais. Apenas trato de memórias de infância, em época em que este historiador não sabia dessas coisas de gente grande.

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