Zé Butina e o bicho de Pé

Zé Butina, por ser homem da roça, teve muitas diversões. Mas uma delas sem dúvida é curiosa: tirar bicho de pé. Quem vai contar essa história de hoje é o sobrinho do Zé, o João Branco.

Bom, o moço já mi apresentô, mas ainda posso dizê que sô um dos subrinho mais véio do tio Zé. Por isso falo desse jeito também... Nasci poco tempo depois dele, de uma partera que de nome Benedita. Ela era de cor, por isso quando nasci me ponhô esse apelido, que fica até hoje, de João Branco.

Vivi boa parte da vida ino e vino, muitas veiz em cidades perto do tio. Também não estudei muito, minha mãe achava que eu tinha que trabaiá deis de cedo tamém e assim foi. Bão, mas a história num é minha, é do Seu Zé Butina...

O tio é uma figura. Ele se mudô de veiz pra cidade faiz poco tempo, mas trouxe muitos costume do sítio e outros deixô pra trais. Um deles que ele sente sardade é tirá bicho de pé, que na cidade de cimento e asfarto num tem mais.

Nos lugar que ele morô sempre gostô de ficá descarço. Quando ia tirá leite das vaca ou de cavalo andá, como os índio ainda até hoje fais, tava sempre cos pé esparmado. Ia pros rio e pros mato, pescava umas traíra e pacu e caçava os cateto e tatu. Só as veiz tinha medo das cobra braba, mas sempre andava ressabiado.

Mas daí apareceu uns home do guverno, uns dotô dizeno que tinha que usá butina, porque os caipira tava sempre duente e diziam que tinha que tratá. Foi então que quando novo ele começou a uns remédio tomá e usá butina o tempo todo, passano o povo a ele desse jeito chamá.

De quarqué forma, mémo com butina, ele num tinha custume de usá meia, como o povo da cidade usa né? Por isso que vira e mexe ele pegava uns bicho de pé. Muita gente acha nojento nos dia de hoje e pensa que é sofridão; mas na verdade muitos não sabe o quanto é bão!

Quando começava os pé a coçá, ele pegava uns espinho, na roça mémo, e se ponhava a furá. Mexe daqui e mexe de lá, tio Zé tirava o bicho, sentino uns arrepie e sempre com um sorriso que num dá pra compará.