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O que é dinheiro? (Parte 02) - Podemos Viver Sem Ele?



Continuando com nossa série sobre dinheiro, veremos nesse texto como ele se transformou com o tempo, ficando mais complexo. E assim procuraremos responder à pergunta: viveríamos sem ele?

Antes de responder, precisamos entender que dinheiro é um "meio de pagamento", que pode surgir também a partir das formas de crédito. E oficialmente ele parte de um sistema organizado em quase todos os países atualmente. O Brasil, por exemplo, tem como agentes de seu sistema monetário os bancos comerciais privados (Bradesco, por exemplo) e mistos (caso do Banco do Brasil, que é meio do governo e meio privado) e o Banco Central.

Complicado? Para entendermos melhor a pergunta título usemos novamente dois autores que mencionamos na outra postagem, Carlos Lessa e Antônio Castro, que dizem que a essência do dinheiro é:

"prestar-se às comparações de valor de tudo aquilo que é levado a mercado; gozar de aceitação universal como elemento de contraprestação nas transações econômicas; e permitir a distribuição no tempo do poder de compra de seus detentores".

Entendeu? Não? Então vamos por partes.

O dinheiro serve para comparação de valor das coisas que não são necessárias para a sobrevivência direta dos indivíduos e por isso são vendidas no mercado (lojas, mercearias, redes de supermercados, etc.). A ideia aqui é que o dinheiro sirva para que uma pessoa ou grupo compare aquilo que produziu com o que foi produzido por outra pessoa ou grupo: se a pessoa produziu milho, ele vai ter numa quantia de dinheiro o equivalente para comprar feijão, por exemplo.

Claro que a coisa na vida real fica bem mais complicada. Mas, continuemos...

O dinheiro é aceito de forma universal, como contraprestação nas transações econômicas. Isso quer dizer que onde não se faz mais troca direta (ou seja milho por feijão), ele é universal, estabelecido pelo governo do país em que se viva e é usado como contraprestação: alguém recebe pela mercadoria que vendeu certa quantia em dinheiro, com a garantia de que ele vai ter o poder de comprar algo no futuro, não exatamente naquele momento, pois supõe-se que o valor tem alguma estabilidade. 

Aí que vem a outra característica do dinheiro: ele deveria permitir a distribuição no tempo do poder de compra de seus detentores. Isso porque teríamos essa relativa estabilidade. Mas essa relativa e suposta estabilidade é afetada constantemente pelas variações de preço ao longo do tempo, que se for elevação chamaremos de "inflação" ou se for, como ocorre em alguns momentos, uma redução nos preços, chamaremos então de "deflação".

E aí o dinheiro deveria (deveria, mas não acontece sempre assim) permitir que o meu ou o seu poder de compra se mantivesse com o tempo. Mas quando você, supondo que fosse produtor de milho, vende um saco de 60 kg por R$ 38,50, pensando que vai comprar 10 kg feijão por R$ 36,66 (porque é o preço do dia que fez a sua venda), deixa seu dinheiro sem usar por um tempo e quando vai ao mercado procurar, havendo uma alteração no preço para mais, a mesma quantia-peso de feijão já estará R$ 40,00! 

Resumindo o nosso exemplo, os 60 kg de milho que você vendeu davam para comprar 10 kg de feijão e sobravam R$ 2; mas você não comprou naquele dia e quando voltou, com a inflação do preço do feijão, além do dinheiro que conseguiu com a sua venda, ainda teve que acrescentar R$ 1,50!

Os mesmos autores que usamos ainda concluem:

"Em suma, [o dinheiro é] denominador comum de valôres, meio de pagamento e reserva de valor, são as funções clássicamente atribuídas à moeda".

Mas, passemos adiante.

Um pouco de história, por favor

Num primeiro momento da história do capitalismo, vivia-se no sistema de concorrência "pura" - ou pelo menos se acreditava que fosse possível. Era o liberalismo em curso. O que é isso? Era a ideia de que todos podemos concorrer, todos podemos vender, todos somos livres! Isso é resumido naquela frase francesa tantas vezes repetidas: "laissez faire, laissez aller, laissez passer", que poderíamos traduzir como "deixai fazer, deixai ir, deixai passar".

Mas a coisa não é tão simples assim. 

Para que os europeus na época conseguissem viver essa ideia, construíram impérios que só foram abalados com a Primeira Guerra Mundial. Do século XVIII ao começo do XX a Inglaterra controlou um terço do mundo, com colônias ou protetorados, exemplos da Índia e da China, que sendo tão grandes não conseguiam se livrar do dominador que lhes impunha tecidos, drogas e tudo mais... 

Outros país do Velho Continente também fizeram o mesmo: a França, inimiga antiga dos ingleses e a Alemanha e a Itália que viraram países na década de 1870. Ainda tinha a Bélgica, que minúscula controlava de forma brutal um território muitas vezes maior que ela mesma, o chamado Congo Belga. Chegaram a fazer um acordo para dividir entre si o continente africano!

Esses mesmos países defendiam o fim do trabalho escravo, como condição para o desenvolvimento da civilização capitalista. Mas, eram os mesmos que exploravam seus trabalhadores em jornadas destrutivas de trabalho, que os castigavam quando resistiam e que não poupavam nem crianças!

Claro que não é só, mas tudo isso tem a ver com DINHEIRO e as formas de poder que ele trazia. 

Pois bem, essa forma de ver o mercado, a dos liberais econômicos, com uma "mão invisível" a guiá-lo não durou para sempre, não de forma inquestionável. Com a Primeira Guerra e depois a Crise começada em 1929, o Estado Nacional (o governo) em vários países passou a ter papel cada vez mais ativo na economia, que vai ter forte influência de John M. Keynes e sua ideia da intervenção estatal na vida econômica com o objetivo de conduzir a um regime de pleno emprego.

Essa intervenção estatal só vai sofrer um golpe importante a partir da década de 1970, com as crises do petróleo e posteriores resultados para a economia mundial. A partir daí volta a ganhar importância algo que não havia desaparecido completamente... adivinhem quem? sim, ele mesmo, o liberalismo, que nesse novo momento teve uma forte influência das ideias do austríaco Friedrich Hayek.

Com tudo o que o mundo passou, ele vem então com o nome de "neoliberalismo" e já não se resume mais à "concorrência pura", pois as grandes empresas, que não tem mais fronteiras, já dominam o mercado. São as multinacionais ou, como alguns preferem, as transnacionais, a dominar um mundo cada vez mais globalizado, onde o dinheiro e as formas de usá-lo também passam por muitas transformações. 

Mas alguns devem ainda estar se perguntando: mas e a resposta da pergunta da introdução, não vem não senhor José? 

Pois então, se pensarmos em termos de Capitalismo, de como a vida gira em torno de mercadorias e como adquiri-las, a resposta será NÃO. Não se vive sem dinheiro, seja qual for a forma que ele assuma, gere lucros ou rendas, se estacione ou pela qual ele se veicule (moeda-papel, papel-moeda, crédito, poupanças, ações, etc. etc. etc.).

Agora, se quisermos saber sobre seus prós e contras; saber sobre as formas alternativas de vida em comunidade (ex. dos indígenas ou outras comunidades retiradas), ou ainda alternativas de sistema econômico existentes ou teorizadas (ex. do Socialismo e de sua forma mais extrema o Comunismo), bom, daí teremos que ver em outra postagem.

Por isso espero você na próxima. Até lá!




As citações de Carlos Lessa e Antônio Castro estão no livro Introdução À Economia.


Clique aqui!

Outros livros que usamos, mesmo que não citemos diretamente, sobre história do dinheiro e econômica são:

 clique para ir! A Idade Média e o DinheiroJacques Le Goff

 clique para ir! História Econômica do Brasil, Caio Prado Jr.

 clique para ir! História Econômica GeralAlexandre Macchione Saes & Flávio Azevedo Marques de Saes

 clique para ir! O Capitalismo É Sustentável?Bernard Perret

 clique para ir! O Capital no Século XXIThomas Piketty

 clique para ir! DINHEIRO História, Mitos & CrençasClene Salles (E-book)

Não deixem de assistir à nossa micro-biografia de Eva Perón clique para ir!

 micro-bios eva perón

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