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O que é dinheiro (Parte 3): existe alternativas?




Dinheiro é um veículo para adquirir coisas em uma sociedade capitalista. Mas nem todo mundo vive na dependência dele e é o que veremos nessa postagem, nos perguntando ainda: podemos falar em evolução?

Se entendermos evolução como um processo de algo pior para algo melhor, a resposta seria não - ou pelo menos um indeciso "depende". No mesmo sentido devemos nos perguntar: somos mais evoluídos por usar um sistema monetário? Segundo Castro e Lessa, os autores que nos referimos aqui algumas vezes e usamos como ponto de partida, a resposta é sim (p. 103)

Mas, já disse antes que não concordo com tudo o que eles expressam em sua Introdução e uma das coisas que discordo é justamente essa. O mundo atual ainda comporta muitas formas de organização econômica; aliás, existem muitas coisas além da economia capitalista. Diríamos então que existe muitas economias?

Desde o século XX o capitalismo viu surgir na prática um rival, o Socialismo. Não estou fazendo apologia do modelo soviético, mas é uma constatação que se trate de uma experiência diferente, assim como a China também o é, embora atualmente peça cada vez mais para ser reconhecida como uma "economia de mercado".

Mas mesmo nas sociedades oficialmente capitalistas existem diferenças marcantes no interior de regiões e comunidades. Só pra falar do Brasil, nós temos uma infinidade de povos indígenas, com línguas e culturas distintas, onde diversas de suas etnias tiveram pouco ou nenhum contato com a sociedade não-indígena, caso dos 107 registros feitos pela Funai de povos isolados na Amazônia.

Alguns deles vivendo da caça e da pesca, outros com formas próprias de cultivo da terra. Diversos desses povos que alguns autores considerariam ainda viver como sociedades comunistas primitivas (Marx) e outros apenas como primitivas. Nós (eu e tantos outros) as consideramos apenas vivendo em uma economia diferente, de subsistência, por vezes com trocas envolvendo comunidades próximas.

Portanto, não devemos considerar "atrasados", apenas diferentes. 


Comunidades quilombolas são outra forma alternativa de vida em sociedade

O problema é que, conforme aumenta o grau de contato com a sociedade "branca", a coisa vai ficando mais complexa, pois como cultura não é algo imóvel no tempo, essas sociedades indígenas também se transformam: eles preservam costumes, mas se veem vivendo entre duas realidades, o que causa uma série de problemas que vem preocupando antropólogos e sociólogos não é de hoje.

Quando no século XV os europeus encontram a América, começa um processo de expropriação de suas terras e a riqueza que as mesmas tinham, que por vezes tinham outro significado para os que aqui já se encontravam. Bem ilustrativo é o filme Caramuru - A Invenção do Brasil, que mostra o contato de culturas e os interesses diferentes de índios e europeus.

Mas a expropriação das terras e das riquezas não parou com o passar de 5 séculos. Basta ver o avanço de madeireiros, seringueiros e mineradoras, por diversas vezes com apoio explícito do Estado Nacional. Os invasores (porque outra coisa não são) avançam com vistas em lucros, riquezas, dinheiro; os índios, por sua vez, são assassinados brutalmente, ou são obrigados a migrar para outras regiões, ou ainda vivarem mão de obra barata em suas próprias terras.

É, não é difícil imaginar que a coisa piora com a falta de terras, elemento cultural fundamental para esses povos. Mas, não paramos por aqui, pois quando o dinheiro entra em suas vidas, os efeitos são por diversas vezes danosos, com perdas (culturais e humanas) irreparáveis - basta olhar para o número de suicídios entre indígenas do Mato Grosso do Sul ou os casos de alcoolismo. 

Isso ocorre porque os que não se integram ao tempo do capital ou se integraram parcialmente trazem suas múltiplas temporalidades, somadas ao tempo relógio das firmas, numa demonstração de que os mundos e a forma de vivê-los não são simétricos.

Claro que pegamos aqui apenas um exemplo, o dos indígenas, podendo ainda incluir as comunidades quilombolas, os sertanejos, as populações mais afastadas dos grandes centros, alguns grupos os quais que seguem movimentos messiânicos, etc....

Restaria ainda pensar as formas como o Estado Nacional deveria agir, de acordo com a Constituição, e como ele realmente vem agindo em relação à essas diferenças no interior do país que oficialmente segue o modelo capitalista.

Bom, mas por ora paremos por aqui, na próxima postagem vamos falar um pouco mais sobre socialismo, capitalismo e momento atual da economia brasileira e mundial. Até lá!

A série:



Referências usadas nessa postagem:

Instituto Socioambiental - O mundo está com febre
 Funai - Povos Indígenas Isolados e de Recente Contato
 Fronteira - A Degradação do Outro nos Confins do Humano, de José de Souza Martins
 Introdução À Economia, de Carlos Lessa e Antônio Castro
 Filme Caramuru - A Invenção do Brasil

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